Depoimento de Catarina Rielli Vieira, neta do personagem protagonista da peça


"Quando li, fiquei perplexa.
Ildeu é meu avô.

Falar sobre a ditadura e suas implicações na vida da minha familia nunca foi fácil. As burocracias com indenizações e outras coisas juridicas, junto com reportagens que anulam a existencia de ditadura no Paraná, e de notícias que mostram que os torturadores estão soltos, apenas abre a ferida que nunca se fechou. Há anos vejo meu pai e meus tios, se emocionarem com filmes, músicas, documentários que dizem respeito a essa época. Não era fácil para uma criança ver as exepressões de uma dor tão cronica sem entender porque. Hoje eu entendo essa dor, hoje essa dor faz parte de mim. Como diz no livro, meu avô ficou tres anos preso no Ahú, e meu pai, ainda pequeno, era o correio entre ele e o partidão. Meu pai conta das tardes que ia jogar bola no presidio, ou quando a policia revirava a casa assustando sua mãe,minha avó.. ou de mudarem de cidade inumeras vezes fugindo da polícia... meu tio, também Ildeu, escutou os gritos de meu avô na sala de tortura. São machucados que não se cicatrizarão apenas com justiça. A ditadura no Paraná existiu, e o assunto não deve ser evitado como vem sendo a anos!
Hoje, deparamos com outras repreensões, com outras caixas e outras dores. É horrível estar sufocado, ter forças mas estar acorrentado.
Em nome de toda família, elogio e a gradeço a iniciativa!

E aviso - eu, minha mãe, meu pai, e meu tio estaremos para a estréia.
Será um momento histórico, depois de tantos anos, meu tio e meu pai voltarem no lugar onde estiveram com frequencia quando pequenos, dessa vez para tomar uma dose de lágrima de fenix.

Mais uma coisa, Curitiba é mesmo um ovo. Julio Manso, meu pai, deu aula no colégio Integral, para o ator Martin Esteche."